sábado, 28 de janeiro de 2012

Domando a fera






Domando a fera do inútil, escrevo
A fera do inquieto, sossego
A fera do fechado, converso
A fera do não, sorrio
A fera do não posso, abro meu coração
A fera do tempo, olho para dentro de mim
A fera da solidão, desenho
A fera do pensamento enrugado, escrevo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Bomba carneiro hidráulico"

"Entardecer com chuva em Porto Alegre"


"Degustando um café"








Poema ao som de "Alvorada - Nature Project"


"Degustando um café"


Eu vou 
Ele parado 
Tu vens
Vermelho taxi
Alaranjado sol
Prateado carrinho 
Estátua manequim
Sombras dançantes
Casquinha alegria
Compras pressa
Pássaros música
Inspiração poema


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

"A filha indignada"







Não lembrava como havia ido parar na rua . Todos os dias era obrigada a ir nas sinaleiras, praças, lugares bem frequentados para pedir comida, dinheiro. De memória não lembrava de nada, não sabia como havia ido parar na rua. Não lembrava. Seu trajes rotos denunciavam que vinha de famíla pobre. Ninguém lhe cuidava. ninguém sabia nada a seu respeito. Talvez só uma senhora, muito idosa, que também era muito pobre, que morava em um casebre no final da rua que desembocava na praça principal.
Há alguns anos atrás ela, Nona, havia ido à casa de Madame Seleste, quando então encontrara com Veridiana, mãe da menina. Ela estava grávida de sete meses, e saiu logo em seguida. Foi posta na rua. Dali para frente não se soube mais nada sobre ela.
Quem pensou em ir à casa foi o padre Jacob, que também já estava velho e como vinha se afeiçoando muito à menina queria uma vida  melhor para ela. A olhava de longe e chorava de pena. É claro ninguém via pois ele se refugiava em seu quarto e aí é que ficava em lambranças.
Lutou contra seus pudores e foi. Bateu com cuidado à porta e a Sra. idosa atendeu.
- Padre o Sr. aqui?
- Vim em paz irmã. Há muito que preciso conversar.
- Entre, por favor, vou  lhe ver um copo de água. Está muito calor.
- Obrigada irmã, precisamos conversar.
- O que o traz aqui?
- A Sra. se lembra de Veridiana, que trabalhava em casa de Madame Seleste e saiu de lá grávida?
- Sim lembro. Ela era de família muito pobre e trabalhava por necessidade.
- A Sra sabe se ela ganhou a neném?
- Sim, ganhou, mas não sei bem se sobreviveu pois nasceu prematura e depois não soube mais nada.
-  A Sra sabe onde mora a família?
- Sei onde mora a avó de Veridiana.
- Eu gostaria muito de ir lá para conversar com ela e tirar algumas dúvidas!
- Mas padre, por que todo esse interesse?
- Porque tem uma menina, que pelas feições dela, a idade presumida, acredito que seja filha de Veridiana.
- Bem padre, teremos de ir sim, mas terá de ser amanhã.
- Ok então irmã, amanhã passo aqui para irmos. Até e fique com Deus.
Naquela noite choveu muito e o padre preocupado deu abrigo à menina.
Amanheceu tudo triste. A menina já não estava na capela. Havia fugido. Comido e fugido.
 O padre preocupado foi ter com Nona para dar provimento à situação. Bateu na porta mas a Sra não atendeu. Tornou a bater. Nada. Então fez a volta e viu que a porta dos fundos estava aberta. Nona estava imóvel sobre a cama. Doente e com febre teve poucos momentos de lucidez e devagar explicou ao padre onde morava a família. ele anotou em papel que carregava no bolso e guardou. Providenciou um médico, mas vovó faleceu naquela noite.
Após as providencias do enterro vislumbrou a menina na praça. Com as faces vermelhas e nariz escorrendo. Deu-lhe comida e abrigo e foi à casa indicada por Nona. Depois de uma conversa longa e triste descobriu que Veridiana havia falecido durante o parto e que o bebê tinha sido dado à adoção.
"Mas como se dá um bebê prematuro , pensou".
- A avó de Veridiana também faleceu dois anos depois e não soubemos mais nada da família que a havia adotado.
- Mas e o hospital em que foi feito o parto?
- Foi em uma clínica fora da cidade.
- A Sra tem o endereço.
- Sim porque guardamos junto com as fotos e documentos de vovó.
- E gostaria de saber pois a menina que fica na praça acredito que seja ela.
- Mas padre, e se não os encontrar?
- Veremos o que fazer.
E o padre foi ter com a Sra que cuidava da menina.
- E então, como foi que ela se portou?
 - Ela não recusou o banho, e está dormindo ainda. O médico veio, deu-lhe um remédio e adormeceu. Disse que é só um resfriado mas que ela não pode mais dormir na rua para não pegar pneumonia.
- Temos que cuidar disso.
No dia seguinte o padre foi à clínica indicada e conversou com as parteiras. Obteve um endereço e foi à procura da suposta família adotiva.
Descobriu que a menina havia fugido de casa aos cinco anos. E lá se vão dois anos.
- Como não a encontraram?
- Não sabiamos onde procurar padre.
- Muito bem, vocês tem uma foto dela?
- Sim, aqui está.
- Mas é a cara da menina que conheço.
- Onde ela está?
- Na cidade vizinha de "Chanca-Ville".
_ Nossa, aquela cidade é muito perigosa. Não padre?
- Olhe eu moro e trabalho lá e nunca presenciei um crime sequer.
- Bem, até logo madame. Nos veremos outro dia.
E lá foi o padre.
No outro dia padre Jacob, após a missa da manhã, foi ter uma conversa com a menina. Percebeu que melhorara pois brincava com os passarinhos que chegavam à beira da janela da copa.
- Pequena, venha cá, sente-se aqui.
- O que é padre, eu fiz algo de errado?
- Não, apenas quero conversar com você.
- O senhor está com uma cara de preocupado. O que aconteceu?
- Eu andei investigando e descobri que sua família mora na cidade vizinha.
A pequena assustada correu à porta e ele a alcançou.
- Escute, por favor, não vou lhe fazer mal algum. Apenas quero coversar e se você depois quizer ir embora então eu permitirei.
- Padre as pessoas são muito malvadas. Fazem coisas ruins às crianças.
- Que coisas? Venha vamos sentar.
Sentaram e só então ele percebeu que lágrimas rolavam pelo rosto infantil.
Esperou ela se acalmar e então contou porque ele estava preocupado e o que tinha feito.
- Eu fugi da casa da família que me adotou porque abusavam de mim. Eu apanhava muito e um dia consegui fugir. Estavam todos bêbados e não perceberam nada.
- Céus, como puderam fazr isso com você?
- Quando eu era bebê sempre tinha alguém da família por perto me cuidando. Depois, já maior, tudo aconteceu.
- Você não conseguiu contar a  ninguém?
- Sim, mas essa pessoa, com medo de perder o emprego, me entregou e então passaram a me prender em um quarto.
- E quem abusou de você?
Ela então chorou copiosamente e não conseguiu contar.
- Bem, vamos tomar um leite, disse o padre. Acalme-se, por hoje chega. Quando você estiver melhor conversamos de novo.
Dias depois, padre Jacob vendo que ela estava melhor contou o destino de sua mãe.
- Eu não sabia de nada. Pobre mamãe. E minha família? Onde está?
- A família de sua mãe é muito pobre e mora em uma vila na periferia.
Um dia vamos lá. Não tenha pressa, você precisa melhorar de saúde. Depois então veremos.
Clara melhorou. Não tinha mais aqueles ares de menina doente. Padre Jacob então resolveu leva-la para conhecer sua família.
Foi uma festa. O avô é que não ficou muito satisfeito, mas com o tempo e a paciência de Clara conseguiram se entender. Afinal a menina não tinha culpa de nada. Seus olhos negros lembravam muito sua mãe. Daquele dia em diante a luz do entendimento passou a iluminar a todos daquela família.
- Padre, disse a tia , a sua vinda aqui e a volta de Clara foi uma benção para nós.
- Também acredito filha, de agora em diante ela não precisa mais ficar pelas esquinas, ao relento e mendigando comida.
A tia então chorou.
- Eu sei que vocês não tinham idéia do que acontecia. Disse o padre. Pois a família morava na cidade vizinha.
- Pois é, gostaríamos de ficar com ela.
- Amanhã darei um pulo na cidade onde a família mora para acertar os documentos e depois lhes comunico.
E assim o fêz.
Dali em diante tudo melhorou. Clara passou a ter uma família que realmento gostava dela e o padre ía seguido visita-la, quando não, a família ia à cidade participar das missas e vender artefatos, artesanato. Assim conseguiam melhorar de vida. E o padre Jacob os ajudou a fazer amigos e clientes. 

domingo, 15 de janeiro de 2012