Matilda deveria trocar de nome:
- Ô nome brega, o que será que minha mãe pensou na hora que me registrou com esse nome.
E encheu novamente as mãos com os cabelos fartos e ondulados. Brilhosos. Puxou em rabo, prendeu e fez argolas com as mechas. Grampos e mais grampos.
Como se não bastasse colocou um laço de cetim rosa na parte superior da cabeça. E com um chiclete na boca admirou-se no espelho da porta do armário.
Virou de perfil, ajustou a saia do vestido marinho, petipoá branco, verificou se não havia nenhuma linha fora do lugar, pegou a bolsa em verniz, beijou a mãe, que já não era mis, e saiu. Nas escadas do prédio ouviu um elogio:
- Vai procurar emprego? Com esse corpinho eu te arranjaria um fácil, fácil!
- Qual é Pedrão, tá me estranhado?
- É que eu não sei calar a minha bôca. Vamos lá, dá uma chance aqui pro fofão!
- Vê se te enxerga. Até mais!
E lá se foi para mais uma tentativa de sair da mesmice.
Pensou, pensou, pensou que o Pedrão tivesse razão. Parou, entrou num bar e pediu um copo de chá gelado. Sentou, tirou um lencinho da bolsa e secou o suor.
- A madame tá com fome? Tem uns pastéis fresquinhos.
- Não, não, talvez na volta.
Matou a sêde e saiu à trote. Segurou-se impávida nos saltos para não escorregar e torcer o pé.
- Quem é que teve idéia de calçar as ruas com essas pastilhas.
Tratou de caminhar mais rápido. E aos pulinhos chegou à Agência de Modelos "Nalata".
Dois andares de elevador e saiu tinindo ao encontro da secretária.
- Menina hoje tem é um comercial de pasta de dente!
- Já não era sem tempo.
- Só que você vai ter de trocar a roupa.
- Tá bem!
E entrou no camarim.
Dali à cinco minutos bateram na porta:
- Vamos logo benzinho, passe um lenço de leve nos lábios e limpa os dentes que estão vermelhos.
Salva por um guardanapo. E foi quase mancando. Trabalho terminado voltou ao camarim, arrumou-se e saiu.
- Coitadinha, disse a secretária, filha de uma ex-miss e está aí nessa penúria.
Salva pelo corpinho lindo.
Matilda, cansada, não via a hora de chegar em casa.
Na escada do prédio tropeçou em um degrau e quase foi de bico ao chão, se não fosse por Pedrão.
- Obrigada!
Levantou-se, ajeitou o vestido e subiu. Não sem antes notar que a camisa do seu salvador era xadrez preto e branco que nem o chão da entrada do prédio.
- Vou lá, mamãe deve estar me esperando.
E Pedrão abanou com um lenço na mão e um charuto na outra.
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